Uma análise elaborada pela Lagom Data para a Internacional de Serviços Públicos (ISP) visualizou padrões até então não observados nas mortes de profissionais da área da saúde durante a pandemia da Covid-19. (Baixe aqui o relatório.)
Ao menos 4.500 profissionais da saúde tombaram nos dois primeiros anos da pandemia, segundo o cruzamento de dados oficiais de dois ministérios. A maioria era composta por mulheres, especialmente pretas e pardas, que exerciam as ocupações mais modestas da saúde.
A pesquisa, publicada em outubro, faz parte de um projeto da ISP para observar a atuação de quatro países em desenvolvimento no combate ao vírus. O Brasil foi escolhido devido ao negacionismo do governo Bolsonaro. O estudo será apresentado pela entidade sindical global para a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As análises produzidas pela Lagom Data, distribuídas pela Agência Bori, focaram nas mortes de profissionais da saúde, captadas em duas bases de dados públicas e muito detalhadas: o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
O site da EPSJV/Fiocruz associa os dados apresentados com a situação precária de trabalho dos profissionais da saúde. Comparando os resultados da pesquisa a estudos anteriores da própria ISP, observaram que na primeira parte da pandemia mais da metade dos profissionais não possuía EPIs suficientes ou capacitação técnica específica para atendimento à Covid-19. Parte dessas pessoas também sofriam de algum tipo de sofrimento psíquico.
Na CartaCapital, o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro comentou os resultados: “O estudo retrata a forma criminosa como o governo Bolsonaro conduziu a pandemia de Covid. Em particular, o descaso que resultou na morte evitável de milhares de trabalhadores de saúde que atuaram na linha de frente. É uma denúncia dolorosa, mas ao mesmo tempo necessária porque temos a chance de mudar o rumo dessa história. É uma forma de reconhecer aqueles que perderam suas vidas defendendo a vida dos brasileiros, que Bolsonaro desdenhou de forma inaceitável.”
Isto É, Folha e O Povo destacaram do estudo o perfil demográfico dos profissionais que morreram: 80% dos profissionais de saúde que morreram durante a pandemia eram mulheres, a maioria nas profissões mais modestas da saúde e em muitos casos sem contrato formal de trabalho. A Folha também toca no debate sobre o reconhecimento da categoria, a implementação do piso salarial de enfermagem e a lei 14.128/2021, que prevê compensação financeira aos familiares dos profissionais da saúde que morreram ou ficaram permanentemente incapacitados.
O Congresso em Foco também mostra trechos do depoimento de Graciete Mouzinho, uma das enfermeiras atuantes contra a crise de escassez de respiradores na rede pública de saúde de Manaus (AM). O material completo se encontra na série Behind the Mask (Atrás da Máscara), produzida pela ISP, com relato de profissionais da saúde do Brasil, Tunísia, Zimbábue e Paquistão.
O estudo foi republicado no mundo inteiro por jornais da América do Norte, Europa e Ásia. Na Índia, local com a segunda maior notificação de casos de Covid-19, as reportagens relatam a situação vivenciada pela população brasileira em veículos como Tripura Times, The Health Indian Project, Health World e The Siasat Daily. Jornais do Oriente Médio, Cazaquistão, China, Londres e Canadá destacaram a posição do Brasil no ranking mundial como o segundo país com maior número de mortes, mais de 690 mil casos até o momento. O país também é reconhecido como o terceiro lugar com maior surto do vírus, ficando atrás somente dos Estados Unidos e da Índia, característica que é ressaltada nas notícias.
O relatório especial com dados e gráficos do estudo “Profissionais da Saúde e a Covid-19 no Brasil” está disponível no site do ISP.